.: Lua, de Luana

Uma mulher que gosta de viajar e, principalmente, conhecer lugares & pessoas.
"Lua vai dizer" foi inspirada na música de Katinguelê, a "Lua vaaai iluminar os pensamentos dela". Sendo assim, pretendo iluminar os caminhos de vocês. Boa viagem! :)

sábado, 20 de outubro de 2018

União dos Palmares - Alagoas

Em meio a tanta discussão política sobre negros e brancos, ricos e pobres, nordestinos e afins, visitar um lugar com tanta história racial é no mínimo emocionante ou bem apropriado. União dos Palmares caiu de paraquedas em pleno feriado para mais uma vez eu lembrar e confirmar que "negro é uma cor de respeito / negro é inspiração / negro é silêncio é luto / negro é a solidão. Negro que já foi escravo / negro é a voz da verdade / negro é destino é amor. Negro também é saudade" (Dona Ivone Lara). 

Parque Memorial Quilombo dos Palmares, área principal

LOGÍSTICA: Viajei no feriado de Nossa Senhora Aparecida - padroeira do Brasil - 12 de outubro de 2018. Fui de carro saindo de Recife, segui pela BR 101, Ribeirão, Palmares, Catende, Quipapá/PE, São João da Laje/AL... União. Meros 230km no total, estrada boa. A hospedagem foi no hotel Santa Maria Madalena, nome da padroeira de União dos Palmares, com bom custo-beneficio.   

Ocas por fora
Oca por dentro
Basicamente a atração principal de lá é a Serra da Barriga, local onde estava sediado o Quilombo dos Palmares, um dos patrimônios históricos do Brasil. A serra fica a 6 km do centro de União e a estrada é 90% de terra (estão iniciando a colocação de asfalto), numa subida longa e íngreme. Só de carro mesmo, nem invente de ir a pé. A região representa a luta dos escravos pela liberdade, tendo como líder o Zumbi dos Palmares. Chegando lá é possível ver algumas ocas, demonstrando a estreita relação entre povos indígenas e negros, um restaurante que oferece comidas regionais, áreas de interação em que contam a história do lugar, mirantes, bem como uma árvore sagrada, na beira do lago, como ponto de reflexão espiritual.
A cidade conta também com a casa de Maria-Mariá e a casa Jorge de Lima, ambos museus que guardam memórias de União. As duas estavam fechadas - parece que é hábito -, infelizmente, mas conhecer a Serra da Barriga já fez a viagem valer a pena. No mercado de artesanato no centro da cidade conheci um mercador muito simpático que falou sobre o lugar, refletindo o sentimento também de que a cultura muitas vezes se perde pelos anos. Muitas pessoas não valorizam, inclusive os próprios políticos, a riqueza histórica de União, sem saber que falar em Brasil é falar de luta, de escravidão, de preconceito, de negro, de identidade, coisa que lá tem muito. Deixo uma frase (vi na net, deve ser dele mesmo) de Zumbi: "Aquele que é feito escravo por uma força maior do que a sua, ama a liberdade e é capaz de morrer por ela, nunca chegou a ser escravo". Resumindo, que nunca sejamos escravos de nós mesmos.

"Deus te abençoe e te dê força"

Dia 20 de novembro "comemoramos" o dia da Consciência Negra, dia da morte de Zumbi dos Palmares em 1695. Desta data para cá ainda temos muito a lutar, dialogar, demonstrar e superar, mais do que comemorar. O nome já diz, consciência é saber que, no fim das contas, somos todos iguais, embora diferentes. O clichê acontece principalmente para quem já passou por comentários preconceituosos e racistas, para quem quer ser igual, mas sempre é tratado como diferente (e é um diferente pejorativo, que denigre, que rebaixa, que discrimina). Que sejamos iguais na diferença.

Beijos com sabor de caldo de cana.



3 comentários: